Publicações

Voltar

   Coleção Sempre Negro

   

 

 

Educação, Arte e Cultura Africana de Língua Portuguesa

Maria Alice Rezende Gonçalvez (Org.)

 

Introdução

 

O I Programa de Formação e Permanência de Afro-Brasileiros da UERJ, cumprindo o  eixo publicação, introduz a  COLEÇÃO SEMPRE NEGRO, que tem como objetivo contribuir para a discussão da questão étnico-racial na educação brasileira. Nos dois primeiros volumes, apresentamo um conjunto de textos que agregam uma ampla diversidade de conteúdos que poderão subsidiar os educadores na tarefa de incluir a temática da história e cultura dos afro-brasileiros e africanos nos currículos do ensino básico.

Nessas duas publicações foram incluídos artigos redigidos por docentes que participaram do II Curso de História e Cultura Negra, que ocorreu nos meses de junho a setembro de 2007, promovido pelo NEAB SEMPRE NEGRO com recursos do II Programa de Formação e Permanência de Afro-Brasileiros da UERJ.

A ideologia do embranquecimento e a crença na democracia racial têm mascarado a questão das desigualdades raciais e do racismo na sociedade brasileira. Conseqüentemente, os educadores têm encontrado dificuldades para incluir em suas práticas docentes a temática étnico-racial. Nosso esforço se justifica pela necessidade de material didático-pedagógico sobre a temática, levando os educadores a construírem currículos que contemplem a diversidade da sociedade brasileira.

O segundo volume - Educação, arte e literatura africana de lingua portuguesa é composto de um conjunto de textos que os professores poderão introduzir no currículo escolar em cumprimento à Lei n. 10.639/03. É com esse espírito que os autores e as autoras dessa Coletânea apresentam suas contribuições para a discussão da questão étnico-racial na escola.

Os textos apresentados na Parte 1 – Ensino Básico e a Lei n. 10.639/03 – apresentam reflexões sobre o significado da lei no contexto nacional atual e as possibilidades de abordagem em suas práticas pedagógicas cotidianas.

André Brandão,  em seu texto intitulado “Afirmação da diversidade e criação de uma nova imaginação nacional”, pretende  refletir sobre o significado da Lei n. 10.639 no contexto nacional atual, marcado pelo avanço do Movimento Negro e pela inscrição de políticas públicas racialmente orientadas na agenda do Estado brasileiro. Busca discutir como o advento desta legislação especifica, em conjunto com outros elementos, marca o início de um processo de construção de uma nova imaginação nacional, que ultrapassa as ideologias raciais até então prevalecentes.

O artigo de Mariza de Paula Assis “A questão racial na Faculdade de Formação de Professores da UERJ: a visão dos docentes sobre a Lei 10.639/03”, traz parte do resultado da pesquisa “A questão racial na formação de professores na perspectiva dos docentes da FFP/UERJ”, desenvolvida no curso de Mestrado em Política Social na Universidade Federal Fluminense. Versa sobre a visão dos docentes da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) sobre a Lei n. 10.639/03, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira na Escola Básica, bem como sobre as possibilidades da abordagem da referida Lei em suas práticas pedagógicas cotidianas.

O artigo oriundo da aula ministrada no II Curso de História e Cultura Negra, “Três faces do desafio acadêmico à implementação da Lei 10.639/03: A face filosófica – A face teórica – A face Epistemológica”, de Amauri Mendes Pereira e Joselina Silva,  procura  problematizar a inexistência das temáticas capituladas na Lei n. 10.639/03, na formação de educadores, a complexidade dos procedimentos teóricos necessários à exposição da História e Cultura Afro-Brasileira e questionam o fato de que apenas no limiar do terceiro milênio tenha ocorrido o reconhecimento institucional da necessidade de se implantar o multi/pluriculturalismo na educação brasileira.

Carlos Roberto de Carvalho, Luciane Nunes da Silva e Mailsa Carla Pinto Passos,  autores do artigo “Algumas reflexões sobre a implementação da Lei n. 10.639/03 nos espaços-tempos escolares e sobre a construção de uma metodologia”, também partem da aula proferida no II Curso de História e Cultura Negra para promover uma reflexão imprescindível acerca da qualificação de professores/as no que diz respeito à temática étnico-racial e fornecer alguns subsídios que auxiliem na implementação da Lei n. 10.639/03, no que diz respeito à construção de metodologias por parte dos educadores e das educadoras.

Silvio de Almeida Carvalho Filho, em “História da África: revogar de um interdito!” analisa como os preconceitos na cultura ocidental contra as sociedades negras classificaram-nas como “bárbaras” e “estáticas”. A história ocidental, que se estabelece a partir do século XIX, ao negar historicidade ao continente africano, legitimou a hegemonia do homem branco sobre a África.

Na Parte 2, estão reunidos artigos que debatem sobre a Cultura, Poesia e Arte Afro-brasileira.

Sonia Beatriz dos Santos apresenta o artigo “Uma reflexão acerca da cultura afro-brasileira”  como parte de um esforço solidário de socialização dos conteúdos da aula ministrada no II Curso de História e Cultura Negra. A autora reflete de forma a desconstruir a visão estigmatizante, excludente e discriminatória das populações africanas e afro-descendentes, de suas culturas e tradições com o objetivo de facilitar a elaboração de instrumentos que dêem conta da riqueza e diversidade em que se expressa esta cultura, bem como das interpretações teóricas de sua construção, de suas manifestações culturais tais como a música, a dança, a arte, a religião, entre outros.

Vânia Penha-Lopes, cujo artigo “Raça, inclusão social e globalização” é uma adaptação da aula inaugural do II Curso de História e Cultura Negra,  faz uma comparação entre a aquisição dos direitos civis nos Estados Unidos e no Brasil, refletindo sobre a importância da preservação de tais direitos para a garantia de permanência das ações de inclusão social.

Rafael dos Santos,  no texto “Considerações sobre diversidade cultural, tolerância e novas tecnologias”, explora algumas possibilidades de ação pedagógica utilizando-se as novas tecnologias em uma perspectiva étnico-racial. Mediante um estudo de caso, buscou-se analisar de que forma etnia e meio virtual se relacionam em uma escola pública.

O artigo de  Zeca Ligiéro,  “Questões da entrada das culturas afro-ameríndias nas universidades brasileiras”, questiona a universidade brasileira como um universo dominado por uma visão eurocêntrica e propõe uma reflexão sobre um processo de inclusão mais abrangente, que envolva também culturas até o presente momento consideradas inferiores, enquanto possuidoras de valores epistemológicos.

Nelson Olokofá Inocêncio,  em “Ética e Ideologia: compreendendo o etos negro por meio da arte sacra de matriz africana”, faz um estudo sobre imagens alusivas aos Orixás, as quais nos remetem a um contexto no qual as relações interpessoais são marcadas por condutas específicas. Tal comportamento dá forma e conteúdo a um etos diferenciado daquele produzido a partir do pensamento ocidental.

O texto de Éle Semog faz um breve histórico sobre o surgimento do movimento de escritores negros no início dos anos de 1970. Propõe uma reflexão sobre a necessidade da existência de uma literatura negra, ou afro-brasileira, em contraponto à literatura “oficial brasileira”. Aborda o processo de articulação dos escritores e escritoras negras, a partir das lutas de combate ao racismo do Movimento Negro.

Na Parte 3, são abordados aspectos da Literatura Africana de Língua Portuguesa.

Pires Laranjeira, em “20 anos de literaturas africanas de língua portuguesa (1975-1995): exemplificações”, reflete sobre a literatura angolana, desde a Independência (1975) até o ano 2000, nas suas principais manifestações, autores e títulos, salientando a fase apologética da nova nação e, depois, a nova fase de crítica a aspectos negativos do regime e dos comportamentos sociais.

Laura Cavalcante Padilha, em “A palavra africana e as memórias antigas”, procura refletir sobre a questão da palavra africana, sempre uma força em si mesma, já que o ato de dizer está profundamente ligado à ancestralidade, ou seja, à importância dos antepassados em dado grupo familiar ou étnico, daí a reverência aos espíritos dos que deixam a terra.

Mostra, ainda, como esses valores se estendem às comunidades de afro-descendentes no Brasil, pois nelas se cultua, também, a força da palavra “mais velha” e da sabedoria que por ela circula.

No seu artigo “Narrativas angolanas: esbarrando na escrivaninha de Agualusa”, Renato dos Santos Pinto aborda alguns textos narrativos de José Eduardo Agualusa, enfatizando aspectos históricos da sociedade luandense e sua pluralidade cultural. Nos trechos do autor que foram destacados, buscou-se extrair o posicionamento das personagens, do narrador e do autor quanto às relações culturais existentes em Angola e no Brasil, para, em seguida, refletir sobre posturas a serem adotadas diante das políticas afirmativas brasileiras.

Esperamos que a COLEÇÃO SEMPRE NEGRO seja do agrado de todos.

Junho de 2007

Maria Alice Rezende Gonçalves
Coordenadora do I PROGRAMA DE FORMAÇÃO E PERMANÊNCIA DE AFRO-BRASILEIROS DA UERJ (2006-2007)

 

 

Sumário

 

PARTE 1
Ensino Básico e a Lei n. 10.639/03


Afirmação da diversidade e criação de uma nova imaginação nacional
André Brandão

A questão racial na Faculdade de Formação de Professores da UERJ: a visão dos docentes sobre a Lei n. 10.639/03
Mariza de Paula Assis

Três faces do desafio acadêmico à implementação da Lei n. 10.639/03: a face filosófica, a face teórica e a face epistemológica
Amauri Mendes Pereira e Joselina da Silva

Algumas reflexões sobre a implementação da Lei n. 10.639/03 nos espaços-tempos escolarese sobre a construção de uma metodologia
Carlos Roberto de Carvalho

Luciane Nunes da Silva e Mailsa Carla Pinto Passos História da África: o revogar de um interdito!
Silvio de Almeida Carvalho Filho

PARTE 2
Cultura, Poesia e Arte Afro-brasileira    

Uma reflexão acerca da cultura afro-brasileira
Sonia Beatriz dos Santos

Raça, inclusão social e globalização
Vânia Penha-Lopes

Considerações sobre diversidade cultural, tolerncia e novas tecnologias
Rafael dos Santos

Questões da entrada das culturas afro-ameríndias nas universidades brasileiras
Zeca Ligiéro

Ética e ideologia: compreendendo o etos negro por meio da arte sacra de matriz africana
Nelson Olokofá Inocêncio

Poetas negros, Movimento Negro e alguma vida
Éle Semog

PARTE 3
Literatura Africana de Língua Portuguesa

20 anos de literaturas africanas de língua portuguesa (1975-1995): exemplificações
Pires Laranjeira

A palavra africana e as memórias antigas
Laura Cavalcante Padilha

Narrativas angolanas: esbarrando na escrivaninha de Agualusa
Renato dos Santos Pinto

Sobre os autores